Nos últimos anos, quem gosta de Cavaleiros do Zodíaco
precisou ter a cabeça aberta para acompanhar a direção que a franquia
tomou com seus últimos lançamentos. Isso tem motivo: embora a paixão
do fã brasileiro continue forte, a Toei também precisa conquistar o novo público japonês. E lá, Saint Seiya é um anime que, apesar de conhecido, fez sucesso há quase 30 anos - ou seja, não está nada fresco na cabeça dos jovens.
Todo esse contexto serve para amenizar o impacto que alguns dos fãs
mais dedicados da saga provavelmente vão sentir após sair da sessão
de Cavaleiros do Zodíaco: A Lenda do Santuário
no cinema. O reboot em computação gráfica nos cinemas foi pensado
principalmente em um público mais jovem, que pode até saber da
importância histórica do anime e do mangá, mas provavelmente nunca
viu nada da série.
Some-se isso à dificuldade de adaptar uma saga de 74 episódios em
um filme de uma hora e meia e o resultado é uma história que, apesar
de ser a mesma na essência, é contada de uma forma muito diferente.
Atena ainda é atingida por uma flecha do mal e Seiya e seus amigos
ainda precisam atravessar as 12 casas protegidas pelos Cavaleiros de
Ouro para salvá-la, mas a batalha não é tão mortal quanto no desenho
animado.
A primeira parte do longa sintetiza os acontecimentos que fizeram
Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki se unir em torno de Atena, sem
tocar em quase nenhum detalhe explorado no anime e no mangá.
Sacrifícios compreensíveis - afinal, o que importa é a subida das 12
casas. Mas até mesmo a cruzada dos Cavaleiros de Bronze pelo
Santuário sofre muitas alterações.
Sem dar spoilers, temos lutas com oponentes diferentes, deixando de
lado muitos momentos épicos que faziam a diferença no desenho
animado. Partes importantes da história que não deviam ficar de fora
acabaram cortadas e o que entrou no lugar não tem um impacto
equivalente ao anime e o mangá. O filme ficou fácil de entender, mas
lhe falta uma das principais qualidades de Cavaleiros: a emoção.
Mas nem todas as alterações propostas são ruins. Uma das boas
novidades é a visual. Embora as armaduras reformuladas não tenham
agradado tanto os fãs, tudo fica muito bem na animação, em uma
estética que parece unir os cenários e detalhes de Final Fantasy com as caras e expressões faciais de um filme da Pixar - uma combinação inusitada, mas que funciona para Cavaleiros. Vale destacar também os belos efeitos visuais dos golpes e das lutas, apesar do uso exagerado do slow-motion.
Os personagens também estão mais rejuvenescidos, e têm uma
personalidade levemente diferente do anime. Alguns traços foram mais
acentuados (Seiya é mais brincalhão, Shiryu é mais sisudo), e os
Cavaleiros de Ouro também passaram por várias mudanças - algumas
delas, interessantes, como as de Aldebaran e Mu, e outras
questionáveis, como a do Máscara da Morte. Mas o filme é curto e tudo
acontece de forma muito rápida para que os personagens sejam
plenamente desenvolvidos.
O outro ponto positivo, claro, é a dublagem brasileira, sem dúvida
um dos destaques do filme, que soube adaptar as mudanças propostas pela
direção japonesa sem deixar de lado as expressões consagradas do
anime. Era de se esperar, afinal, quase todos os atores interpretam seus
personagens há 20 anos - os estreantes Mauro Castro e Silvia Goiabeira também fazem excelente trabalho como Camus e Miro, respectivamente.
Lenda do Santuário
caiu naquele estranho limbo dos reboots que tentam, ao mesmo tempo,
alcançar um público novo e agradar os fãs já existentes, mas não
conseguem nenhum dos dois objetivos com êxito. Se você é fã ardoroso,
vai ter que manter a cabeça aberta para aceitar o que mudou. A
mensagem principal do desenho - confie em seus amigos, nunca desista
-, ainda está intacta. Só prepare-se para vê-la de um jeito bem
diferente do que você está acostumado.
Fontes: Omelete
Creditos: Nero
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