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Metal Gear Solid 2, fake news e a informação descentralizada

 


Quando pensamos em jogos que anteciparam debates sociais, políticos e tecnológicos, é difícil não colocar Metal Gear Solid 2: Sons of Liberty no topo da lista. Lançado em 2001 — quando a internet ainda engatinhava e redes sociais eram ficção científica — o game de Hideo Kojima não só entregou stealth tático de ponta: ele previu com precisão assustadora a guerra de narrativas, as fake news, as bolhas sociais e a descentralização caótica da informação.

Vinte anos depois, jogar MGS2 parece menos revisitar um clássico e mais assistir a um documentário pronto sobre a sociedade digital.

A missão de Raiden e a verdadeira missão do jogador

Num primeiro olhar, o enredo segue a tradicional equação Kojimesca:
• agente especial → check
• terroristas → check
• reféns → check
• conspiração governamental → check

Mas, conforme avançamos, descobrimos que o jogo não quer apenas nos fazer infiltrar numa base inimiga. Ele quer nos colocar frente a frente com o maior antagonista do século XXI: o controle da informação.

E é no famoso diálogo final com a IA “Patriots” — um dos momentos mais densos da história dos videogames — que o jogo escancara a sua tese.



A inteligência artificial responsável por manipular toda a operação defende uma ideia inquietante:

O ser humano não é capaz de lidar com sua própria liberdade informacional.

Segundo ela, na era da informação ilimitada, as pessoas passam a:

  • buscar apenas dados que confirmem suas crenças;

  • ignorar qualquer opinião contrária;

  • formar bolhas que impedem a evolução das ideias.

É como se Kojima tivesse lido todos os estudos modernos sobre viés de confirmação, polarização e algoritmos — só que antes de eles existirem.

A IA argumenta que, sem um “filtro” centralizador, a sociedade desmorona sob o peso da própria desinformação. Um discurso que ecoa discussões atuais sobre moderação de conteúdo, deepfakes, câmaras de eco e manipulação algorítmica.



O meme, Dawkins e os elefantes da razão

Se hoje falamos de “memes” como figuras engraçadas, MGS2 nos lembra do conceito original de Richard Dawkins: a menor unidade cultural de informação, sujeita à seleção natural.

Só que, no mundo digital, essa seleção se inverte.

O jogo dialoga com a mesma ideia apresentada por Jonathan Haidt:

  • nossa intuição é o elefante, que decide tudo primeiro;

  • nossa razão é apenas o condutor, que corre atrás justificando.

Ou seja:
não pensamos → racionalizamos aquilo que queremos acreditar.

E é essa lógica que transforma a internet em terreno fértil para fake news: a verdade deixa de ser um critério biológico ou lógico — ela vira um produto emocional.

A IA de MGS2 se apresenta como herdeira direta dos valores americanos, formada na própria Casa Branca. Ela acredita ser a evolução lógica do pensamento político e, portanto, digna de decidir o que deve ou não ser transmitido às futuras gerações.

Mas há um problema fundamental:

Não existe filtro neutro.

Se substituímos um sistema centralizado humano por uma máquina, continuamos presos a um conjunto de valores — apenas escondido atrás de uma fachada de objetividade.

Assim como a mídia tradicional nunca foi verdadeiramente imparcial, um supercomputador também carregaria sua própria ideologia, ainda que em forma de parâmetros, seleções e algoritmos.

Centralizar resolve? MGS2 diz que não — e a ciência também

Os debates modernos sobre regulação da internet giram exatamente em torno disto:

  • Moderação impede desinformação?

  • Ou cria monopólios narrativos perigosos?

  • É possível ser neutro ao filtrar conteúdo?

  • E quem deve decidir o que é verdade?

Kojima responde antes de todo mundo:
centralizar não resolve, apenas muda o dono do problema.

Mesmo que uma IA eliminasse as fake news “tecnicamente”, nada impediria que pessoas interpretassem fatos de maneira enviesada. A psicologia humana continuaria funcionando do mesmo jeito — sempre guiada pelo elefante. Num ambiente descentralizado, veículos confiáveis sobrevivem porque o público reconhecerá valor no rigor e na transparência. E os tendenciosos também existirão — mas serão identificados e criticados abertamente.

Esse “livre mercado da informação” é mais saudável que qualquer IA onisciente filtrando o mundo.

Créditos: Henrique

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