O atacante Martín Palermo, do Boca Juniors, se despedirá da mais fanática torcida da Argentina na Bombonera neste domingo, no duelo contra o Banfield, pela penúltima rodada do Torneio Clausura, às 20h20 (de Brasília). O jogador, que fará sua última partida como profissional na próxima semana diante do Gimnasia, é conhecido em seu país por ter uma trajetória digna de cinema e o GLOBOESPORTE.COM montou um roteiro com o melhor e o pior da carreira do maior goleador da história do Boca.
- Um filme sobre o Palermo teria que ser uma comédia dramática. Martín é um romântico. Ele não tem destreza, não tem condições para jogar futebol, mas sempre superou os adversários e as adversidades. É como um Frankenstein - analisou o diretor argentino Juan Pablo Roubio, autor do filme "Argentina Fútbol Club", que contou com a participação do próprio Palermo, em entrevista por telefone.
O torcedor Damián Biagetti é responsável pela principal homenagem na despedida do ídolo: resolveu fazer uma campanha para a criação de uma estátua do jogador, que gostou da ideia e acompanha de perto a evolução da obra, que deverá ser exposta no museu do clube.
- Depois de tantas alegrias, de tantas loucuras, achei que era a hora de homenageá-lo. Trata-se de um guerreiro, um homem incomparável. Hoje em dia é raro um jogador ficar tanto tempo no mesmo clube e ainda fazer tantos gols - exaltou Biagetti
A ideia de um filme sobre o artilheiro encanta Damián, que dá dicas importantes.
- O filme deve mostrar o otimismo dele, sua garra. Ele sempre se levantou. A primeira parte deveria ser sobre quando ele voltou de lesão e marcou um gol decisivo contra o River na Libertadores - apontou, referindo-se à histórica vitória sobre o arquirrival por 3 a 0, em que Palermo entrou em campo no segundo tempo e marcou o terceiro gol, carimbando a classificação do time de La Boca para as semifinais.
O patinho feio
Todo herói de cinema que se preze inicia sua trajetória com dificuldades, sofrendo preconceitos e quase sempre chegando ao ponto de desistir de algum sonho. Com Palermo não foi diferente. Começou a carreira no Estudiantes de La Plata em 1992, mas demorou dez meses para marcar seu primeiro gol como profissional.
Nenhum treinador parecia gostar do grandalhão louro, que quase foi parar no San Martín de Tucumán - curiosamente o time sobre o qual balançou a rede pela primeira vez, no dia 22 de maio de 1993. Graças a um preparador físico que assumiu o comando técnico, a estrela do atacante começou a brilhar, os gols se tornaram constantes e o Boca acabou o contratando.
Gols chaplinianos
Palermo é o atacante que fez os gols mais inacreditáveis da história do futebol. Daqueles que, contando, ninguém acredita. Em 1997, Martín conseguiu converter um pênalti com as duas pernas. Desengonçado, escorregou e a bola acabou entrando após bater rapidamente nas pernas de nosso herói enquanto o mesmo caía. Na comemoração, um sorriso amarelo.
Em 1999 o goleador machucou o joelho direito em uma partida contra o Newell's Old Boys. Não podia ser substituído e sim, acabou fazendo um gol dramático, o 100º de sua carreira. Já no Villarreal da Espanha, Palermo ficou alguns meses sem balançar as redes e, quando voltou a marcar, foi comemorar com a torcida. A vibrante celebração derrubou um muro de proteção, os torcedores caíram e o resultado foi uma lesão grave no tornozelo direito.
Em 2007, Palermo marcou o gol mais bonito de sua carreira. Em jogo contra o Independiente, o atacante roubou a bola e, da linha do meio de campo, arriscou o chute. O goleiro Ustari estava adiantado e virou um espectador de luxo. Um ano depois, mais um gol inusitado. Após cobrança de falta, o goleiro do River Plate espalmou a bola para cima. Palermo se apoiou no travessão e marcou de cabeça.
Em 2009 Martín entrou para o Livro dos Recordes. Para afastar o perigo, o goleiro do Vélez deu um chutão para a frente. Não esperava que a bola fosse parar exatamente na cabeça do atacante, que conseguiu marcar a surpreendentes 38,9m de distância do gol.
Golias contra... Golias
Um herói precisa de um vilão do mesmo peso para dar emoção à trama. No caso do protagonista argentino, seu rival era um homem que nunca levou desaforo para casa: o polêmico goleiro paraguaio Chilavert, que jogava no Vélez Sarsfield. Houve confusão em duas oportunidades e, em ambas, Palermo foi expulso. No primeiro duelo, o jogador do Boca deu um carrinho para tentar alcançar a bola, mas acabou acertando o goleiro, que respondeu deixando as travas de sua chuteira marcarem o rival.
No segundo enfrentamento, alguns anos depois, Chilavert cobrou falta, a bola bateu na barreira, voltou para o goleiro, mas o camisa 9 do Boca impediu o rebote, em um choque que levou os dois ao chão.
Os melhores capítulos
Além de ser o maior artilheiro da história do Boca Juniors, Palermo foi o responsável por alguns dos gols mais importantes da história do clube. Conforme lembrou Damián Biagetti, o gol contra o River está no imaginário de todos os torcedores. Martín voltava de lesão após seis meses e chegou a ser alvo de piada do técnico rival, que o classificou, indiretamente, como um ex-jogador em atividade. O River havia vencido a ida das quartas de final por 2 a 1. O Boca vencia o jogo da volta na Bombonera por 2 a 0, sofria enorme pressão e um novo gol confirmaria a classificação. O atacante entrou durante o segundo tempo e marcou o terceiro.
O auge da carreira aconteceu em Tóquio, no Japão, mais precisamente no dia 28 de novembro de 2000. Final do Mundial de Clubes contra o poderoso Real Madrid. Em cinco minutos Palermo acabou com o jogo, marcando dois gols na vitória por 2 a 1.
O fortalecimento de um guerreiro
Um dos piores capítulos na fantástica história de cinema aconteceu na Copa América de 1999. A Argentina enfrentava a Colômbia e Palermo perdeu três pênaltis no mesmo jogo (assista no vídeo ao lado). O feito foi notícia em todo o mundo e, desde então, o atacante nunca conseguiu ter sucesso com a seleção.
A pior parte do filme, no entanto, aconteceu fora dos gramados. Em 2006, Palermo perdeu um filho, que nasceu prematuramente. Pouco tempo depois pediu para jogar e homenagear o bebê, que se chamaria Stefano. Marcou dois gols, deixou o campo chorando e foi ovacionado pela torcida e por Maradona.
A redenção
Depois de longo tempo longe da seleção argentina, Palermo foi convocado pelo técnico Maradona para os dois últimos jogos das Eliminatórias para a Copa de 2010, contra Peru e Uruguai. Os argentinos faziam campanha medíocre e corriam o risco de não disputarem o Mundial. Contra os peruanos, no Monumental de Nuñez, Higuaín abriu o placar, mas a Argentina sofreu o empate aos 44 do segundo tempo. Era a cena perfeita para a consagração do herói. Chovia como nunca em Buenos Aires e, aos 47 minutos da segunda etapa, o ídolo do Boca marcou o gol da vitória.
Contra o Uruguai, Palermo não jogou. Todavia, seu gol reacendeu a chama do time, que venceu o rival em Montevidéu, carimbando o passaporte para a África do Sul.
O fim
Todos os ingressos foram vendidos para a despedida contra o Banfield. Com um Mundial de Clubes, duas Libertadores, seis campeonatos argentinos, e quatro sul-americanas no currículo, a estrela do filme receberá os últimos aplausos de seus seguidores. Após cerca de 20 anos em cartaz, o filme Martín Palermo deixará o circuito para sempre e não estará disponível em DVD. Sorte dos que puderam gravar na memória os gols do Titã.
Créditos:Junior
Globoesporte.com
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